Vergonha (Texto adaptado do famoso discurso de Rui Barbosa,…
Vergonha é o que sinto diante de tantos desmandos, tanta corrupção tanta impunidade. Todos gritam, imploram por um Brasil decente, justo, fraterno, onde as riquezas do País sejam distribuídas com equidade provocando o sentimento prazeroso da justiça. Recolhemos 40% do PIB, 1,8 trilhão (2011) e com essa dinheirama toda, com honestidade e gestão pública, os problemas do Brasil seriam resolvidos.
Não é o que se vê. Rui gritou em 1914 que o homem sentia vergonha de ser honesto diante do descalabro do novo regime republicano. Derrubada a monarquia (1889) instaurou-se a República e 25 anos depois pronunciou o seu famoso discurso.
Analogamente, o retorno à democracia em 1988 avolumou os problemas nesta quadra da nossa história à semelhança do começo do século passado. O mundo já não nos leva a sério, somos lembrados em cinema e séries de TV como o refúgio de picaretas e rapineiros. Onde vamos parar? Rui ao levantar seu grito anteviu que o Brasil passaria por ondas de dificuldades políticas. Passamos 100 anos com dezenas de crises políticas, todas, tendo como tema de fundo a má gestão publica do País.
A democracia, como disse Churchill, é o pior sistema de governo, exceto os demais. Permite, até, a convivência com aqueles que desejam derrubá-la sob qualquer argumento, inclusive a corrupção. Quem conhece um pouco de nossa história recente sabe que o fim da “democracia” (1964) não residiu, somente, na suposta implantação de um movimento revolucionário, tinha, também, a semente da desesperança de nossos líderes partidários. Quando a sociedade perde as referências em seus políticos busca o atalho perigoso de outros segmentos organizados como as forças armadas.
Nossa última esperança é o STF. Esperemos que faça justiça.
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(1) A falta de justiça, Srs. Senadores, é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação.
A sua grande vergonha diante do estrangeiro, é aquilo que nos afasta os homens, os auxílios, os capitais.
A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.
De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.
Essa foi a obra da República nos últimos anos. No outro regime (na Monarquia), o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre, as carreiras políticas lhe estavam fechadas. “Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos se temia e que, acesa no alto (o Imperador, graças principalmente a deter o Poder Moderador), guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade
2 COMMENTS
“Foi o novo regime que lhe deu tão nojenta feição para os seus homens públicos de todos os matizes… Uma rematada tolice que foi a tal de república. No fundo o que se deu em 15 de novembro foi a queda do partido liberal e a subida do conservador, sobretudo da parte mais retrógrada dele, os escravocratas de quatro costados” Lima Barreto, escritor
“… peço aos deuses que afastem do Brasil o sistema republicano porque esse dia seria o do nascimento da mais insolente aristocracia que o sol jamais alumiou…” Machado de Assis, escritor
Frases que tudo explicam. Para nossa reflexão.
Prezada Margareth
Fiquei feliz de v. ter lido o artigo publicado. Não tenho pretensões de discutir um assunto tão complexo como esse de “mudança de regime” Minha intenção foi marcar uma posição sobre os desmandos administrativos que vem ocorrendo de norte a sul do Brasil e que tem origem neste Estado Paternalista e Patrimonialista que se instalaou no Brasil. Neste sentido, de lamentar, que o Governo Portugues e sua figura mais imortante no Brasil, D. João VI, foram os principais resposnáveis pela cultura patrimonialista que o Brasil conheceu. Não obstante, infelizemente, os republicanos, pioraram as coisas.
Forte abraço