VILA DA CRUZ – DO CONFRONTO À VITÓRIA SOCIAL
Amigos e amigas de Floripa

Tendo o cruzeiro como testemunha, o amor pela terra prometida e a determinação dos fortes um grupo de mulheres, bonitas, jovens e valentes, da Vila da Cruz, no Rio Tavares, (próxima à Pedrita) resolveram por um fim à violência que se alastrava no bairro.
Eram 7 ruas, 900 casas, 1200 moradores vítimas de atentados diários, 52 arrombamentos por mês. Já tinham apelado à PM, à PC, Guarda Municipal mas mesmo assim, as ocorrências criminais não cessavam.

Chegaram aos ouvidos das 4 jovens[1] o Projeto VSI – Visinho Solidário Interativo[2], se interessaram, acreditaram no projeto e o colocaram em prática. Buscaram ajuda em algumas autoridades notadamente, o Tenente Miranda e o coronel Araujo Gomes que lhes deram as coordenadas para montar uma página no Facebook e abrir um grupo de WhatsAPP como forma de comunicação imediata. Os próprios policiais participam destes grupos.
A primeira ação consistiu exibir “placas indicativas do VSI” na duas entradas da Vila, depois nas casas. Segundo as coordenadoras não pode haver ordem onde há desordem. Propuseram um conjunto de ações, arregaçaram as mangas e em conjunto limparam as ruas, pintaram os meios fios, recolheram o lixo, sinalizaram as 7 ruas. Foram além, conseguiram iluminação moderna, e o programa invadiu as próprias residências com podas de árvores, roçagem de jardins, recuperação de portões. Adotaram o FOX40 um apito que opera sob certos protocolos indicando algo equivocado dentro da Vila. Este pequeno instrumento permitiu que vários “casqueiros”[3] fossem impedidos de invadir residência.
O Bairro se transformou, ficou bonito, os visinhos passaram a se cumprimentar, todos cuidavam de tudo. A alegria de morar havia retornado.
O que era uma ação de segurança veio somar-se uma operação de economia – a coordenação passou a estimular o desenvolvimento de pequenos negócios dentro da Vila. Assim passou-se a contratar serviços de encanador, pedreiros, eletricistas junto dos moradores, criaram até um “Ubber” próprio, a Feira de Talentos para expor os trabalhos manuais da comunidade, o Surf Ecológico, um programa de limpeza da praia. Até os pequenos animais abandonados foram alvo das atenções – é comum ver moradores alimentando cães e gatos eventualmente abandonados. A Vila passou a gerar renda, emprego e impostos.
A integração com as forças de segurança é tamanha que é comum ver policiais serem convidados a sentar à mesa e tomar café “com bolinho de banana” “de chuva” ou então saborear um gostoso pudim feito pelas moradoras.
O sucesso do Programa VSI vem através dos números – um ano após a sua implantação, 1/4/2015, os crimes caíram de 52 por mês, para 2 tentativas/ano. Lá a segurança deixou de ser problema agora o foco é outro – trazer as melhorias para a comunidade – a creche, a qualidade do ensino, a saúde e as melhorias urbanas.
Parabéns à comunidade – com criatividade, sem dinheiro, armas e conflitos mostrou que as soluções existem. Bom programa para ser estimulado pelo Poder Público e Entidades Empresariais.
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[1] Ane Félix, Margarete Crepaldi, Jaqueline Assunção e Soraya Camargo.
[2] O Projeto “Vizinho Solidário Interativo” já avançou, são 30 unidades, inclusive em outras cidades (Biguaçu). Em breve serão centenas. A bandidagem vai ter que migrar para lugares menos seguros.
[3] Casqueiros são consumidores de crack que roubam o que encontram pela frente para satisfazer o vício.
1 COMMENT
O trabalho empreendido na Vila da Cruz tem o respaldo acadêmico de Jane Jacobs, uma jornalista que aprendeu urbanismo na prática observacional. A partir dela surgiu um jargão chamado “olhos da cidade” que abriu caminho a mais moderna base de controlar a criminalidade que é o termo “supervisão social”. Espero que esta iniciativa seja apoiada e frutifique em outros locais. Os politiqueiros não gostam muito destas iniciativas porque não geram aquela dependência doentia do povo para com estes corruptores do verdadeiro sentido ou significado de política..