
CARTA ABERTA DO CHEFE GUARÁ AO PREFEITO MUNICIPAL
Senhor Prefeito,
A última vez que voamos por estes mangues de Floripa datam de 1773, portanto 247 anos atrás. Neste tempo Floripa chamava-se Ilha de Santa Catarina e só posteriormente, com a chegada de Dias Velho (1673), passou a chamar-se Nossa Senhora do Desterro. Pode ser que alguns irmãos tenham retornado, mas foram poucos, sequer, notados.

Os registros de nossa “wikizoobiblioteca” dão conta da qualidade de vida que havia por aqui, abundância de peixes, moluscos marinhos, de água doce ou terrestres, base de nossa alimentação. Das 15 bacias hidrográficas existentes, todas estavam intactas, os índios que aqui habitavam não eram muitos, possibilitando a preservação.
Os mangues não só eram verdes como hoje, mas mantinham na superfície terrestre absoluta qualidade de vida animal, o termo poluição não existia, todos conviviam em harmonia mantendo a cadeia alimentar.
A foz dos rios Ratones, Rio Tavares, Itacorubi, entre outros eram verdadeiros banquetes para nós, a comida era farta e de boa qualidade.
E o que dizer das lagoas, as grandes e as pequenas, todas de um azul marinho deslumbrante, a vida era natural, peixes de todas as espécies, todos se alimentavam bem, homens, índios e animais. Havia uma harmonia entre o natural e o artificial.
Como Vossa Excelência sabe os homens descobriram os drones recentemente, mas nós já operamos com estes equipamentos há milhares de anos. Este recurso nos permitiu ver de cima, nesta última revoada, os estragos que são cometidos contra a natureza. Os nossos “técnicos” foram muito além do IMA sobre a poluição da Ilha e Continente. Não obstante o IMA dizer que 77% dos locais são próprios para banho ninguém acredita nessas informações. Todos têm medo de contaminação, como nós também. Aliás, nossos instrutores de “solo” levaram nossos bandos para lugares que acharam seguros, mas não temos garantia de que nossa alimentação não estava contaminada. Assim e a depender do que vai acontecer com nossos irmãos poderemos ou não retornar em outras oportunidades.
Deste nosso passeio por estas regiões ficou a impressão que as autoridades dispensam pouca atenção à preservação da natureza. É inadmissível que uma Ilha cantada em prosa e verso, linda e maravilhosa (nossos ancestrais habitavam estas paragens quando os portugueses chegaram por aqui em 1534) tenha que conviver com algo tão danoso como ausência de saneamento básico, assunto resolvido em todo o mundo desenvolvido.
Do que vimos e registramos não nos anima a voltar. Talvez possamos retornar daqui uns 10 a 20 anos e examinar se a poluição acabou. Até lá desejamos boa sorte, muita sorte, às pessoas, principalmente, aos idosos e crianças vítimas diretas de doenças originadas destes passivos ambientais.
NOTA: Já andamos por vários lugares emprestando nosso nome às cidades – Guaratuba (Paraná), Guaraqueçaba (Paraná), Guaratiba (Rio de Janeiro), Guarapari (Espírito Santo), Guaramirim (Santa Catarina) e Guaratinguetá (São Paulo).