MOBILIDADE URBANA EQUÍVOCOS “ESTRANGEIROS”

Invariavelmente, técnicos que vem de fora sem a experiência de viver numa cidade-Ilha cometem os mesmos equívocos quando propõem soluções para o transporte de massa da cidade.
Jaime Lerner, depois de 2 ou 3 propostas se convenceu que por aqui não cabem metrôs, nem BRT ou ônibus simples em canaletas, nem VLTs, o que vai funcionar é a integração de transporte marítimo com o transporte rodoviário e se juntar os teleféricos, e ciclovias, fica ainda melhor.
Há três capitais no Brasil que não podem falar que o transporte coletivo não tem solução – Florianópolis, Vitória e São Luiz – pela boa e simples constatação de que estão cercadas de avenidas marítimas por todos os lados.
Nos dias 25 e 26 de março de 2013 a PMF fez realizar através da Secretaria de Desenvolvimento Urbano um Seminário na UFSC e lá esteve palestrando o arquiteto Gustavo Restrepo que “humanizou Medelim”, seu projeto juntou o transporte rodoviário à escadas rolantes e teleféricas nos morros da cidade. Sem dúvida uma criativa ideia que pode ser aproveitada em parte em nossa cidade.
O equívoco de Restrepo foi ter aventado que aqui “podemos sugerir estações multimodais que se interligam através de conexões menores. Por exemplo, um sistema de metrô de superfície, conectado com BRT (ônibus rápido) com teleféricos e ciclovias”. Nem um pio sobre transporte marítimo citadino ou regional. Ele vem de terras firmes, Medelim não conhece o mar, muito menos é uma Ilha. Restrepo cometeu os mesmos equívocos dos primórdios de Jaime Lerner.
Geograficamente, nossa cidade é acidentada, suas ruas são estreitas, salta aos olhos a inviabilidade de projetos que queiram cercear ainda mais estes espaços. Em compensação nosso mar além de fornecer peixes, fornece também brilhantes soluções para o transporte marítimo. Tudo poderá ser feito através de concessões, a iniciativa privada pode aportar os recursos financeiros necessários, especialmente, em estações de ciclovias, teleféricos e terminais marítimo-rodoviários. Há necessidade de se pensar em integração, tudo deveria convergir para estas estações de transbordo, chegada e saída.
Com mais algumas intervenções pontuais no atual sistema rodoviário com alargamentos de algumas ruas (Edu Vieira, por exemplo), acostamentos e duplicação das SCs (403 por exemplo) alguns novos viadutos (chegada em Canasvieiras, por exemplo), implantação de um túnel saindo do centro da cidade até a UFSC e de lá até a Lagoa, melhoria de nossas calçadas para privilegiar os cadeirantes, estaria resolvida a mobilidade da cidade em menos de 8 anos. Para o Continente, além da ampliação da BR282, a solução definitiva virá com o Anel Viário, transformando a atual BR101 numa avenida metropolitana e a conclusão da Beira Mar Continental até a BR101.
A insegurança técnica é visível quando se vai a um seminário como o mencionado. Todos falam em “talvez” “não tenho certeza” “é possível” “posso sugerir” “será que vai dar certo”. A maioria usa do oportunismo político e os que conhecem a cidade, que a estudaram, se inibem, não falam, ficam confusos diante da soberba política reinante nestes ambientes.
Falta-nos o fortalecimento do IPUF sob liderança firme para construir a cidade do futuro, 100 mil novas residências, infraestrutura para todos, água e esgoto, lixo e transporte de massa. Cabe ao IPUF levar a minuta do projeto (ou projetos) para discussão. Quando vejo que os responsáveis buscam nos Foruns ou Comites as soluções (que nunca aparecem) fico convicto de que renunciamos à técnica, ao conhecimento, à prancheta, para dar lugar à politica e atalhos para encobrir incompetências.
- O terminal marítimo de passageiros de Fortaleza, localizado no bairro do Mucuripe, receberá turistas vindos de cruzeiros e transatlânticos, a partir de março de 2013, de acordo com a previsão da Companhia Docas do Ceará. Usaram espaços maritimos o que por aqui seria um sacrilégio.
3 COMMENTS
Dilvo, primeiramente parabéns pelos artigos, esse conflito de competências não deveria existir porque prejudica o desenvolvimento, são burocráticos demais. Por causa da burocracia muitas mortes aconteceram, por ex., na famigerada duplicação da BR101. Estes órgãos públicos em duplicata deveriam ser sumariamente extintos. Admite-se apenas um com competência para agir em todo o Estado de SC. Não posso admitir, também, que uma Av. intermunicipal como a Via Expressa (BR282), seja gerida por Brasília, eles não estão nem aí para nossos problemas. O que falta aos governantes são: planejamento e ações a médio e longo prazos, mas eles só tem visão e preocupações até a próxima eleição.
Abraços
Bridi
Prezado Hélio, obrigado por ter visitado o Blog. Estou emprestando minha modesta experiência de Técnico em Desenvolvimento e professor da ESAG (SMJ, frequentamos a mesma Escola) com vistas a trazer um pouco de racionalidade ao debate. Forte abraço
Caro Dilvo, passaram-se dois anos e, infelizmente, continuamos sem solução e cada dia a situação fica pior. Há alguns anos vi e ouvi em uma entrevista na TV um ex-prefeito, hoje senador, dizer “que o transporte marítimo ligaria nada a coisa nenhuma”, tem gente que diz que o mesmo é proprietário de empresas de ônibus, se for verdade realmente o transporte marítimo é inviável, né?.Através facebook fiz três perguntas, sem respostas: O que liga a beira mar de São José? O que liga a Av das Torres em São José? Obras (sic) iniciadas e inconclusas até hoje, quando ele foi prefeito de São José por dois mandatos consecutivos. O que liga a Av Continental? Respondo: nada a coisa nenhuma. Além do que o que foi feito é de um “planejamento” da pior espécie e incompetência, como foi da pior espécie a qualidade dos serviços. Uma das soluções é a melhoria do tráfego para o sul, pois o grande fluxo é para esta direção. O crescimento e expansão de São José são evidentes.